Tenho Trombose Venosa Profunda, e agora?
Neste post abordarei as principais dúvidas sobre o tratamento e a evolução da trombose venosa profunda (TVP) partindo do princípio que o diagnóstico correto já foi realizado.
A trombose venosa profunda pode ocorrer em qualquer segmento venoso profundo do corpo humano, sendo porém mais comum nos membros inferiores e veias ilíacas.
As tromboses venosas profundas se dividem em duas fases; a aguda e a crônica.
Fase aguda – até aproximadamente três semanas após seu início.
Na fase aguda os sinais e sintomas são mais marcantes podendo haver dor, edema, e mudança de cor no membro afetado. Esta é a fase mais perigosa pois o trombo ainda não está totalmente aderido à parede do vaso e pode se soltar provocando a embolia pulmonar.
Nesta fase é iniciado – quanto antes melhor – o tratamento com anticoagulante(s). O anticoagulante tem a finalidade de evitar o aumento do coágulo para outros segmentos das veias, diminuir as chances de embolia pulmonar e permitir que o sistema fibrinolítico (mecanismo natural de dissolução de trombos) atue dissolvendo os trombos ainda frescos. O rápido e correto emprego de anticoagulantes nesta fase também será decisivo no grau de sequelas futuras que o paciente apresentará. Neste período, é prudente manter certo grau de repouso com o membro afetado elevado acima da altura do coração para facilitar o retorno venoso e diminuir o edema.
Fase crônica – após as três semanas.
Nesta fase, o trombo já se encontra aderido à parede da veia e o risco de embolia pulmonar é muito reduzido. Os sintomas iniciais já estão muito diminuídos e o paciente é liberado para caminhar livremente. Meias elásticas serão indicadas se houver edema e pelo tempo que for necessário até seu eventual desaparecimento.
Também é nesta fase que as sequelas da TVP podem iniciar a aparecer (insuficiência venosa crônica) e serão devidas principalmente a dois fatores.
- O trombo não se dissolveu completamente e mantém certo grau de obstrução venosa.
- O trombo foi dissolvido mas houve lesão nas válvulas venosas.
No primeiro caso os sinais e sintomas serão devidos predominantemente à obstrução venosa e a consequente dificuldade do retorno do sangue pelas veias obstruídas.
No segundo, as queixas serão devidas ao mau funcionamento das válvulas das veias que acarreta dificuldade de retorno e aumento da pressão venosa quando o membro estiver para baixo.
Em resumo, em ambas situações haverá dificuldade de retorno venoso e hipertensão venosa no membro afetado.
O grau destas sequelas e queixas será proporcional ao grau de obstrução venosa ou à extensão das lesões das válvulas e poderá variar de assintomáticas à muito severas.
Por quanto tempo devo tomar o anticoagulante?
Esta resposta depende de vários fatores. Vamos abordar os principais.
Se o paciente teve TVP devido a fatores pessoais que não poderão ser afastados (genéticos, por exemplo) configurando uma trombofilia primária, o tratamento deverá se prolongar por tempo indeterminado.
Se a TVP ocorreu devido a fatores presentes que possam ser eliminados, chama-se trombofilia secundária, então o tratamento com anticoagulantes terá prazo para terminar.
Gosto de empregar o parâmetro laboratorial com a dosagem sanguínea do D’dímero que é um subproduto da degradação da fibrina (proteína presente nos trombos). Sendo assim, mantenho o tratamento com anticoagulante até que a dosagem do D’dímero volte ao normal, significando que não há mais trombos sendo dissolvidos.
Quando se suspende o tratamento antes da normalização do D’dímero existe probabilidade maior de ocorrer uma nova trombose mesmo tendo-se afastado os fatores que desencadearem a trombofilia secundária.
Espero ter contribuído no esclarecimento de tópicos importantes sobre a trombose venosa profunda (TVP).
Dr. Abdo Farret Neto